domingo, junho 25, 2006

Ainda pensei em criar uma história, a fingir que não sou eu, com as palavras bem medidas, cheia de frases-isto-não-tem-absolutamente-nada-a-ver-comigo. Mas a verdade é que o que escrevemos fica sempre tão longe de nós próprios, que tanto faz. Se calhar, quem anda metido consigo dificilmente consegue saltar os muros de si mesmo, esgueirar-se por qualquer palavra aberta. Se calhar, resta-nos apenas deixar um grito nas paredes sujas que todos têm dentro – Fulano de Tal esteve aqui! – e ir riscando os dias. Ou escrever como quem lima em vão grades invisíveis. Isto porque falávamos da (in)comunicação, das vozes que se cruzam, das que irrompem do não ser em qualquer esplanada, em qualquer fim de tarde, porque tudo o que existiu existe - ou tudo o que se queria que existisse existe. Ou falávamos, talvez, do silêncio, de como as palavras nunca nos levam ou nos trazem os outros, de como naufragam no ar à beira dos olhos.