Cheguei a um ponto de não precisar copiar o movimento porque as mãos, mais a direita, certas, comandadas pela graça de um deus que me tinha o tamanho da catequese e daquele momento, até ficarem juntas. Isto, às vezes, depois de uma história sobreposta à de um dia antes, mas que nunca me emudecia o oxalá hoje haja história. Porque naquilo que às vezes falha a repetição encaixa.
Lembrei-me disto porque um homem que é só cadeira se levantou um dia destes, a coca-cola na mão pouco certa, estendida por cima do balcão, a recuar centrado num obrigado a bater na língua. E a empregada, senhora de dias bem cumpridos, para outra, diminuiu um bocadinho o olho direito e subiu o ombro esquerdo, ao que a outra, um estalido de quando a língua deixa o céu da boca de repente, os olhos a encostarem-se ao chão, que é aquilo a que se encostam quando qualquer coisa. Quase me ia a mão direita a escorregar, certa, direitinha, mas eu a tempo. Porque ainda uma teimosia de sacudir o deus que me entranharam.
Mas falava-te era do decalque da história, das frases que nos disseram, que dissemos, que ficam num ritmo de entretanto, quase tudo a mexer-nos num agora que deixa de o ser porque todo com os espaços cheios do que se tem sido.
Mas foi-me a mão na mesma e acabaram as duas juntas porque nos entranharam para o podermos culpar quando é altura disso.
quinta-feira, novembro 23, 2006
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19 comentários:
Eu fico maravilhada pela visão que tens dos acontecimentos, sejam eles simples ou não.
E digo mais: Deixe de teimosia!
rs
Beijinho.
Às vezes, andamos todos por coisas bem pequenas, simples, como dizias, que acontecem ou não. Muitas vezes.
Obrigada pelo comentário, Claire.
Beijinho.
leio e releio, volto a ler para conseguir de novo reler o que aqui fica, o que escreves, o que aqui dizes, a falar muito de tanto medo, em coisas tão pequenas em espaços cheios, tão cheios de mãos em ritmos de entretanto...
Do que se escreve, fica (quase) sempre um entretanto, porque, no turbilhão do que se quer dizer, há coisas que se antecedem e outras que um pouco mais atrás.
Obrigada pela leitura, Nuno.
Há quem nos deixe sem palavras, e
pior sem as outras. Gostei muito,
aliás, como sempre.
Sem palavras (escritas) hei-de ficar eu agora durante uns tempos, porque é tarefa difícil conseguir corresponder ao comentário, Paulo.
Obrigada pela leitura e pela simpatia.
Beijinho.
Júlia,
A tua escrita é verdaderamente especial. Diferente, inovadora. Parece que brincas com as palavras e saem estes belíssimos textos.
Um beijo de admiração.
verdadeiramente, é claro, Júlia... (risos).
Mais um beijo.
Vamos sendo um amontoar de. E é isso que se escreve - palavras encaixadas consoante.
Obrigada pelo comentário e pelas palavras simpáticas, Maria.
Um beijo.
Os Quartos Escuros fazem anos. Foi precisamente há três que abrimos a porta para lá entrar. E por lá fomos ficando a dizer e ouvir coisas. O escuro é mesmo o nosso lugar natural.
E para a assinalar os três anos de idade, estamos a oferecer ao visitante exemplares de O Sopro da Tartaruga de João Miguel Henriques. Basta para isso deixar um comentário em www.quartosescuros.blogspot.com, indicando o nome, a morada e o número de exemplares pretendido (é para ler e oferecer aos amigos). Contamos vê-los aqui por muitos mais anos de escuridão.
Queridas Amigas:
Muito obrigado por toda esta escrita maravilhosa. Gostaria de a não ver interrompida para que pudesse voltar a comentá-la.
Feliz Natal e beijinhos a Ambas.
Vc tem o dom da palavra...
Parabens!
Bjossss
À Vida em Transe, obrigada pela visita e pela leitura. Quanto ao elogio, fica, claro, o mesmo agradecimento, mas tenho de confessar que, julgo, vou só escrevendo conforme e aquém do dom da palavra.
Um beijo.
é um prazer diferente ler o que aqui se escreve. J.
espero aqui.
Obrigada, R.E., por ler o que aqui se escreve, coisas de consoante.
Ao N., é bom ter-te por aqui. E nós também cá estamos, por isso, fica.
que forma tão particular de descrever as coisas. gostei muito, de ler. do blog
parabéns
Acredito saber de ausências, e até
do meu egoísmo mas sinto a falta das vossas linhas.
Cumprimentos, tudo de bem.
tenho saudades deste lugar. J.
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