A tarde de ontem foi-me de horas escorregadias, a deixar-me pernas aflitas de passos a mais a fazer peso numa cadeira de esplanada e olhos cheios daquela angústia que nos vem de não compreendermos certas partes. Ao contrário de hoje, um dia cheio de medidas.
Dizia-te que ontem, coisa de três, quatro passos ao meu lado, outras duas cadeiras – uma com um corpo e uma sem nada. Um corpo de cara já pouco lisa, de olhos amarrados à altura de uma cabeça que não havia. E, pouco depois, aparece um posso?, não percebi de onde, já de braço estendido convicto da resposta. Mas que não, que não podia, que a cadeira ocupada. E os olhos, naquele meio ponto que deve ficar entre a zanga e a tolerância, retomaram o fio.
Falavas-me de uma dança com fantasmas? Talvez isso.
A sério que eu com a cabeça em encontrões de indecisões, que, se toda eu lucidez, me tinha levantado e deitado ao de braço estendido convicto da resposta que lata! Tirar lugar a quem já estava! Mas já as mãos nos braços da cadeira e chegou-me a parte da preocupação com o entretenimento da cabeça dos outros em relação a mim. Deixei-me.
Horas de o sol já gasto, e o da cara pouco lisa de pé, a afastar um pouco a outra cadeira com mãos todas delicadeza. E via-se-lhe, entre as dobras marcadas da cara, a tarde bem pintada.
Mas deixei-me.
Se falavam? Era capaz de te jurar que ouvi murmúrios. Uma tarde de horas escorregadias.
E deve ter guardado o dia. De B A, mas bem pintado.
quinta-feira, maio 25, 2006
sábado, maio 20, 2006
domingo, maio 14, 2006
Não te escrevi ontem porque uma noite de ar barulhento pelas fendas da janela e, com isso, um serão de vozes que já não há, de eu a vedar-lhes a entrada, mas nada. Nada mesmo. Todas cá, aos empurrões.
Não muito bem guardado, sabes, o passado.
De modo que hei-de arranjar-lhes daquela fitinha esponjosa. Não lhe sei o nome certo, tenho de andar sempre a vasculhar palavras. Mas hei-de desenrascar-me, arranje-me fita de não entrar vento, por favor, daquela de emudecer o assobio. E que os há, há, os empregados que esbanjam movimentos que não acompanho e pesados de paciência, de revirarem até aqui tem. O sorriso de agrado e eu a ver-lhe, mesmo, mesmo por detrás, a chatice da arrumação. Ele a tentar uma forma de ser só por fora e eu, que pouco levanto os olhos dos balcões, dessa vez, a teimar-lhe que o conduzir-se assim certinho, com tudo contado, não era pressa, mas forma de poder deitar-se e dormir, todo arrumadinho.
Mas falavas de não se andar de olhos tão para dentro, julgo. De haver só uma voz e do grito e de a memória andar atada a uma consciência de só nós.
Se gosto do sono de pessoas de aqui tem? Se mo emprestassem, eu de mão já à espera, deixava as fendas todas destapadas, que nunca deixasse de ser assíduo.
Mas o que te perguntava era se o passado era domingo. É? Carregado de um tempo esticado e nós a querermos que fique mas que assim não.